XINGU de JÚLIO POMAR
design gráfico de Ilhas Studio
19 x 14,2 x 2,5cm
impressão Norprint
edição e distribuição Fundação Júlio Pomar
O álbum reúne uma extensa selecção dos cadernos de desenhos trazidos pelo artista de uma estadia de cerca de dois meses numa aldeia Yawalapiti, no território índio do Alto Xingu, no estado de Mato Grosso, Amazónia, em 1988, a convite do produtor Roberto Fonseca, quando da rodagem do filme “Kuarup”, adaptação de Ruy Guerra do romance homónimo de António Callado (“Quarup”). A esferográfica, o marcador e o lápiz foram os meios utilizados.
No Xingu vivem os Yawalapitis, os Kamaiurás, os Txicão (Ikpeng), assim como outras tribus indígenas. As secções do álbum incluem Kuarup ou Quarup (festa ritual de homenagem aos mortos ilustres, e o tronco de madeira que representa um morto); Jakui (flauta sagrada que nunca deve ser vista pelas mulheres); Festa ou Dança do Papagaio (ritual tradicional das aldeias Kamayurá); Huka-Huka (tradicional luta corporal que os homens praticam durante a cerimónia do Quarup).
Edição da Fundação Júlio Pomar, por ocasião da exposição «Tawapayera» no Atelier-Museu Júlio Pomar. Inclui um breve texto introdutório de Júlio Pomar e 16 fotografias de Teresa Martha. Design gráfico do estúdio Ilhas, coordenação de Alexandre Pomar, Impressão Norprint, 500 exemplares. Com uma edição especial numerada (100 exemplares) e assinada pelo artista, contendo uma serigrafia numerada e autenticada com o selo branco da Fundação Júlio Pomar, impressa na ‘Lavandaria’ de Marta Teixeira. A edição teve o apoio da Caixa Geral de Depósitos.
preço: €22,50 / ed. especial (últimos exemplares) €50€
serigrafia incluída na ed. especial

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TEXTO DE JÚLIO POMAR
À minha chegada à aldeia Iawlapiti deslumbrou-me o rigor do seu desenho num enorme círculo, sobre o qual parecia assentar a esmagadora abóbada do céu, contrariamente ao que se sente na aproximação da floresta, em que vida e morte estão presentes uma ao pé da outra, e a luz desaparece pela selvagem progressão da natureza, pela sua capacidade de resistir à ordenação humana.
Todo o peso do universo parece assentar no vazio do círculo desenhado pela aldeia, da mesma maneira que parece esmagar pelo peso o índio que dança curvado sobre o solo.
Os desenhos efectuados no Xingu começaram por ser anotação sumária do exótico das aparências, para se tornarem progressivamente em “arrumações” do que intenta anotar o seu movimento. A ideia de cópia ou imitação dá lugar a um desejo de integração no movimento, mais do que no seu registo.
Mas esta é a eterna corrida da palavra atrás da definição do que é sentido. Repito: do que é sentido, expressão que prefiro à de sentimento, palavra que parece já fechar-se em busca de uma conclusão.
Vantagem da imagem sobre a palavra? Cada um que puxe a brasa à sua sardinha.
4 Outubro 2017
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As I arrived at the Yawlapiti village, I was awed by the rigour of its enormous circular drawing, on which the crushing dome of the sky seemed to rest, in contrast to what one feels when approaching the forest, where life and death stand side by side, and light fades into nature’s untamed progression, given its capacity to resist human ordering.
The entire weight of the universe seems to rest on the circular void etched by the village, just as it seems to crush the Indian, who dances, arched over the ground. The drawings made at Xingu started out as brief drafts on the exoticism of appearances, but gradually evolved into attempts to ‘tidy up’ movement. The idea of copying or imitating gave way to a desire to integrate movement, rather than registering it.
But herein lies the eternal chase of the word striving to define what is felt. I repeat: of ‘what is felt’, an expression I much prefer to ‘feeling’, a word that seems to close itself off in search of a conclusion.
The advantage of the image over the word? Toot your own horn.
Júlio Pomar
4th October 2017
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fotografias de Teresa Martha