DOM QUIXOTE POR JÚLIO POMAR – Museu Municipal de Óbidos, Festival Folio – Curadoria de Alexandre Pomar – 06.09.2016 / 31.12.2016
Para assinalar os 400 anos da morte de Cervantes, a Fundação e o Atelier-Museu Júlio Pomar associam-se ao Folio-Festival Literário Internacional de Óbidos, numa mostra única de gravura, serigrafia e desenhos de Júlio Pomar sobre Dom Quixote. Pela primeira vez se reúnem num único espaço algumas das obras sobre o (anti) herói de Cervantes que o artista criou em três períodos das sua carreira, distanciados por várias décadas: em 1959 – 1961, Pomar ilustrou Dom Quixote a convite da editora Bertrand, prolongando então a “encomenda” por um largo conjunto de pinturas, gravuras e esculturas em ferro; em 1998, quando de uma exposição no Centro Cultural de Cascais dedicada a esse ciclo de obras, acrescentando-lhe uma pintura de grande formato e uma serigrafia; e por fim entre 2005, quando realizou centenas desenhos para uma edição que o semanário Expresso editou em dez fascículos.
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“Cervantes é a mais continuada cumplicidade literária de Júlio Pomar, que na sua longa obra contou sempre com as fontes literárias e a ilustração como uma das grandes pistas de criação.
De Sidónio Muralha, Alves Redol e Cardoso Pires, em 1949, depois Camilo, Tolstoi, Dante e Rabelais, até Camões e Pessoa, Borges, Pöe, Homero, a lista é longa. A interpretação do pretexto ilustativo que forneceu os temas (Quixote, os Tigres, o Corvo, Ulisses, etc) foi separando-se cada vez mais do texto de referência para viver por si mesmo na liberdade do desenho ou da pintura. É uma abertura para os caminhos da imaginação, por via da ficção e do mito, que alterna com a observação do real e dos seus espectáculos (cenas do trabalho, no período neo-realista; tauromaquias e corridas de cavalos; retratos e corpos; Índios da Amazónia…). Essa relação com a escrita foi objecto de uma primeira antologia em 1991 (Charleroi, Bélgica – off Europalia) e um livro na mesma data («Les mots de la peinture. Pomar et la Littérature», ed. La Différence, Paris).
Começou essa relação com Cervantes por um convite para ilustrar as «Novelas Exemplares», em 1958 (ed. Folio). Mas foi «D. Quixote» que ocupou o artista em sucessivas etapas, ultrapassando as encomendas para fazer dos heróis ou anti-heróis, e de diferentes episódios narrativos, temas pessoais, abordados em múltiplos modos de fazer.
Em 1959-61, na sequência das 30 pequenas pinturas a preto e branco, em têmpera sobre cartão, para a edição Bertrand, Quixote apareceu igualmente num ciclo de seis gravuras, cinco pinturas e várias esculturas de ferros soldados. Quando em 1997 surgiu a ideia de reunir essa produção numa exposição (Centro Cultural da Gandarinha, Cascais), a revisão da obra feita proporcionou o desejo de acrescentar-lhe uma nova variação sobre o episódio de D. Quixote e os carneiros, agora em tela de muito grande formato. Dela se editou uma versão em serigrafia, aqui exposta.
Outra releitura do Quixote aconteceu já em 2005, para uma edição do Expresso em 10 volumes semanais. Pomar tomou a encomenda como razão de mais um mergulho no desenho, que foi sempre praticado como disciplina e com variada regularidade. Foram reencontros (ou recomeços) assumidos em plena liberdade de criação, acompanhando a par e passo a paginação dos cadernos realizada por Henrique Cayatte. E então outra série de pinturas quixotescas surgiu com estes desenhos.
Alexandre Pomar