Júlio Pomar – Imagens da Tauromaquia – Museu Municipal de Vila Franca de Xira – 30.03.2019 – 13.10.2019
“A Tauromaquia foi um dos temas de eleição de Júlio Pomar num período decisivo da sua carreira – desde os primeiros Touros, em gravura e pintura, de 1959-60. E a ela por vezes regressou em obras ligadas ao imaginário ibérico (com Cervantes e Goya), que realizou até entrado o século seguinte. O mundo da Corrida, nas suas diversas manifestações, ocupou-o durante quatro decisivos anos em que mudou a sua pintura, antes de partir para Paris, em 1963. E a primeira exposição na capital francesa foi dedicada à série das Tauromaquias.
Deixado o Neo-Realismo, de que foi o principal proponente, Pomar continuou a tomar como motivação, e não só como “motivo” ou assunto, as figuras, cenas e actividades do universo do trabalho: pescadores, sargaceiros, a lota, a debulha, a pisa da uva, etc. A Tauromaquia, com os seus personagens e episódios (cavaleiro, picador, a pega, a colhida) e os seus actos sociais (a largada, a espera), faz parte desse universo popular e surge na mesma sequência de interesses. É trabalho, é festa do povo e é espectáculo.

A representação já não era de leitura evidente, ao contrário dos ditames do realismo social, mas está sempre presente. Era o espectáculo do real visível que mais interessava ao pintor, partindo do que observava – movimento, cor, acção, emoção – para ensaiar novas direcções da realização pictural, num tempo em que o abstracionismo parecia ser a direcção dominante e era para Pomar uma interrogação, talvez uma tentação.
O gesto, o signo, a explosão dos traços rápidos, urgentes e vibrantes, tomavam a dianteira no fazer material do quadro sobre o contorno nítido da figura. Na obra pintada ou gravada é a aparição da forma, o momento em movimento, a imagem fugazmente vista, sempre instável, móvel, súbita, que mais importa, inscritos num espaço instabilizado, agitado, também vibrante. Aí a pintura é igualmente acção, a acontecer diante do observador.
A gestualidade exercitada pela mão do artista (expressionismo gestual, se se quiser dizer assim) corresponde por inteiro ao dinamismo dos actores – toureiro e touro. Uma mesma vertigem conjuga a tensão, a interacção das figuras, a velocidade da Corrida e o agir do pincel, o gesto tenso, veloz, fulgurante.
Duas gravuras intituladas “Entrada de Touros em Vila Franca de Xira” situam o lugar da acção num território que tinha antes atraído o pintor durante o chamado “Ciclo do Arroz”, uma década antes. Foram importantes passos no itinerário do artista, que percorreria por um tempo longo vários outros lugares do espectáculo e da imaginação, e diferentes modos de pintar.” Alexandre Pomar (in catálogo-desdobrável)
“Entrada de Touros em Vila Franca de Xira”, 1963
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